domingo, 29 de outubro de 2017

“Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!”

“Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!”



Um juiz de Porto Alegre indeferiu o pedido de cancelamento da peça blasfema “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” alegando o princípio da liberdade de expressão. A apresentação traz uma infame narrativa da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, apresentando nosso Divino Salvador como uma “mulher transexual” que endossa e incentiva esta condição.
Ultimamente tem havido uma série de apresentações em museus e teatros com conteúdos ofensivos à religião, sempre sob a égide da liberdade de expressão, que se transformou assim numa via cujo destino final é a destruição dos valores cristãos. Os responsáveis por tais apresentações se esquecem, no entanto, de que o mesmo dispositivo legal que trata da liberdade de expressão também defende a liberdade consciência – dois tipos de liberdade que, neste caso, afiguram-se conflitantes.
A propósito da exposição Queermuseu  – Cartografias da diferença na América Latina, promovida pelo Banco Santander em Porto Alegre, escreveu o jornal “O Estado de S. Paulo”: “A liberdade de expressão do pensamento não raras vezes entra em conflito com os limites da razão e da sensibilidade. Quando isto ocorre, frequentemente, levantam-se vozes eloquentes em defesa do direito à liberdade de expressão em detrimento de valores importantes dos indivíduos, acarretando enormes e injustificáveis riscos aos costumes e à cultura jurídica.” [i]
Alguns defensores da liberdade de expressão chegam a ponderar “que a liberdade de expressão deve valer-se do bom senso, também chamado de razoabilidade, para evitar possíveis polêmicas, ofensas, discussões, danos morais e condenações.”[ii]
Em nome da liberdade de expressão, também o Museu de Arte Moderna de São Paulo promoveu uma apresentação onde uma mãe e sua filha de quatro anos passavam as mãos sobre o corpo de um “artista” completamente nu, deitado no solo. O fato causou indignação e revolta de manifestantes em frente ao museu e nas mídias sociais.
Robert Simpson, doutorando em filosofia pelo Somerville College, Oxford, afirma que “em uma sociedade que valorize a liberdade de expressão, ser ofendido pelo discurso de outros é um dos preços que é preciso pagar.” E continua: “Uma coisa é ofender uma pessoa de forma acidental quando criticamos suas crenças mais arraigadas. Outra coisa é ridicularizar ou denegrir as convicções das pessoas repetidamente de forma calculada numa tentativa de fomentar ódio, ressentimento e humilhação. A distinção liberal entre dano e ofensa desenha uma imagem nitidamente dividida do relacionamento social:  às vezes estamos vivendo nossas vidas e perseguindo nossos objetivos, outras vezes estamos atuando de forma hostil e com más intenções.” [iii]
Alessandra Amato, no artigo “Os Limites da Liberdade de Expressão”, observa que a verdadeira liberdade de expressão não existe:
Se observarmos o mundo, a ideia central é que não há uma verdadeira e objetiva liberdade de expressão.
O pensamento, a opinião de cada um de nós é pré-determinada, enraizada nos nossos modelos familiares, educacionais, culturais e ideológicos, não esquecendo da educação escolar e da religião, o grupo e o meio social, assim, como as informações úteis ou não dos meios de comunicação.
 A liberdade de expressão deve respeitar os limites éticos, morais, sociais e familiares, deixando de lado, e não confundindo com a imoralidade, palavras de baixo calão, ou qualquer forma e pensamento destrutivo de conceitos como o respeito, a dignidade humana, as opções das pessoas, não tornando, portanto, um meio prejudicial e danoso.”
Observamos no Brasil, um equívoco em relação à liberdade de expressãoA televisão brasileira, por exemplo, ao se expressar, distorce notícias, condena pessoas, estimula a sensualidade precoce, a mentira, a nudeza infidelidade conjugal, etc. Cadê os órgãos públicos fiscalizadores?” 
 E conclui: “Não podemos confundir a liberdade de expressão com a degradação, banalização e inversão de valores, o que infelizmente vem ocorrendo”. [iv] (grifos nossos)
A liberdade sem freios pode levar a extremos que culminarão na anarquia total. A Revolução de 68 na Sorbonne, em Paris, e o Festival de Woodstock, realizado entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969 nos Estados Unidos, são exemplos disso. Essa liberdade traz em seu bojo o amor livre, o homossexualismo, o aborto etc. Assim, a tão propalada liberdade de expressão tem sido usada como uma palavra-talismã carregada de um espírito revolucionário que vem desde os enciclopedistas do sec. XVIII, quando sonharam com o ideal de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Madame Roland foi guilhotinada
no dia 08 de novembro de 1793
 pelos Girondinos, no período do Terror,
durante a Revolução Francesa

“Assim – afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira –, desde que se excite ao máximo em um paciente, por meio de uma hábil propaganda, a paixão da liberdade, pode-se criar nele a apetência desordenada de um estado de coisas em que não haja poder público nem leis. A natureza humana decaída tende facilmente para tal. E os germes ideológicos legados ao mundo pela Revolução Francesa estão carregados de estímulos nesse sentido. Ora, este é também o termo em que, segundo os doutrinadores do marxismo, deve desfechar em sua fase final o Estado totalitário comunista”.[v]
Em nome de tal “liberdade” foram mortas milhares de pessoas pela guilhotina durante a Revolução Francesa. Foi por isso que Madame Roland (quadro ao lado), ao caminhar para o cadafalso onde seria decapitada pelos revolucionários, exclamou: “Oh liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!
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[i]http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/queermuseu-a-liberdade-de-expressao-e-os-limites-da-razao-e-da-sensibilidade/
[ii]http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10790&revista_caderno=9
[iii] http://freespeechdebate.com/pt-pt/discuss/prevenir-danos-e-permitir-ofensa/
[iv] http://investidura.com.br/biblioteca-juridica/artigos/direito-constitucional/3855-os-limites-da-liberdade-de-expressao.html
[v] http://www.pliniocorreadeoliveira.info/livros/1965.pdf

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Ideologia de Gênero: a batalha final?

Ideologia de Gênero: a batalha final?



A batalha final entre o Senhor e o reino de Satanás será sobre o matrimônio e a família”, afirmou a Irmã Lúcia, vidente de Fátima, em uma carta enviada ao Cardeal Carlo Caffarra, Arcebispo de Bolonha (Itália).[1]
Em 16 de fevereiro de 2008, o Cardeal Carlo Caffarra havia celebrado uma Missa na tumba de São Pio de Pietrelcina, após a qual deu uma entrevista para a ‘Tele Radio Padre Pio’, quando lhe perguntaram acerca da referida carta.
            “A batalha final entre o Senhor e o reino de Satanás será a respeito do Matrimônio e da Família. Não temam, porque qualquer pessoa que atue a favor da santidade do Matrimônio e da Família sempre será combatida e enfrentada em todas as formas, porque este é o ponto decisivo”, disse o Cardeal.
O Cardeal Caffarra acrescentou ainda que, “falando também com João Paulo II, a gente podia sentir que a família era o ponto central, pois é o fundamento da criação, a verdade da relação entre o homem e a mulher ao longo das gerações. Se o pilar fundamental é transtornado, todo o edifício fica paralisado e agora vemos isto, porque estamos justamente neste ponto e sabemos”.
Concluiu o Cardeal: “E fico comovido quando leio as melhores biografias do Padre Pio a respeito de como este homem esteve tão atento à santidade do matrimônio e à santidade dos esposos, inclusive, com justificável rigor em algumas ocasiões.
As profecias e as revelações particulares nunca são feitas de modo claro. Elas não são como uma notícia de um fato acontecido, mas sim que vai ou poderá acontecer. Portanto, não revelam a data nem o modo como tal fato se dará. Só na medida em que os fatos revelados forem acontecendo e se encaixam como num quebra-cabeça é que se percebe a analogia entre eles e a profecia.
Imagem Peregrina Internacional
de Nossa Senhora de Fátima
Assim, a previsão de Nossa Senhora de Fátima em 1917,  de  que a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo, não poderia ser entendida naquele contexto histórico. Não se sabia de que erros Ela falava. Tal previsão ficou evidente somente após a Revolução bolchevique e a execução da Família Imperial Russa, em 17 de julho de 1918. Hoje, porém, os erros do comunismo estão por toda parte.
Foi pensando nisso que me perguntei se essa insana ideologia de gênero já não seria a “batalha final” de que fala a Irmã Lúcia.
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ideologia de gênero é propriamente uma ideologia. Ela não é uma teoria ou simplesmente uma ideia maluca. Toda ideologia parte de um pressuposto, de uma premissa. A partir dela se constrói um raciocínio ou silogismo no qual se funda a ideologia. Se a ideia inicial for falsa, todo o edifício ideológico que se constrói a partir dela também será evidentemente falso. O comunismo, por exemplo, parte do princípio de que toda desigualdade é um mal. A partir daí têm-se as consequências desse princípio que são as revoluções, as mortes que ele causou e as ideologias que a partir dele surgiram com o fim de destruir a civilização cristã.
Para se combater uma ideologia com eficácia, é preciso combater antes o seu princípio inicial. A ideologia de gênero parte de dois princípios: a) o sexo é um aspecto biológico do homem e da mulher; b) o “gênero” é o sexo socialmente construído. O primeiro princípio é verdadeiro. O segundo, porém, contém o erro. E é a partir desse erro que se construiu essa ideologia.
A palavra “gênero” vem carregada da energia de uma palavra-talismã. Ela é usada em sentido diferente do seu significado etimológico, pois gênero significa coisas diferentes que têm relação entre si. Por exemplo: gênero literário, gênero musical, gêneros cinematográficos etc. As palavras têm gêneros: gênero masculino, gênero feminino e gênero neutro. O gênero delas depende do país ou da região. Assim, a palavra sangue, por exemplo, pode ser do gênero masculino em português, feminino em espanhol (la sangre) e neutro (the blood) em inglês. Os seres humanos e os animais têm sexos, e não gênero.
Se o “gênero” é definido socialmente ou psicologicamente, a pessoa pode trocá-lo sempre que desejar. O homem poderá mudar para o “gênero” feminino e, se quiser, volta a ser do “gênero” masculino. A mudança de “gênero”, contudo, não muda o sexo da pessoa porque está no DNA. Uma pessoa, mesmo após a morte, pode ser identificada se é do sexo masculino ou feminino através do seu esqueleto. Homens e mulheres são iguais na sua essência – ambos têm um corpo e uma alma –, mas são diferentes na sua constituição física.
Segundo essa ideologia sem base científica, todas as pessoas – homens e mulheres – nascem iguais. Uma das consequências desse princípio é um igualitarismo exacerbado com o desaparecimento dos sexos masculino e feminino.
A outra consequência é a abolição do único tipo de casamento verdadeiro que é entre um homem e uma mulher. O homem e a mulher são diferentes biologicamente.  É por isso que eles se complementam no casamento. Se fossem iguais, não haveria como se complementarem. Como todos são iguais, de acordo com a ideologia de gênero, qualquer “casamento” é válido. Assim, as uniões entre pessoas do mesmo sexo, as uniões com membros da própria família e até com animais – pois até lá vai essa loucura! – são válidas. Aparecem, então, vários tipos de “famílias”. O resultado será a destruição da família como Deus a instituiu.
Para “compensar” a diferença biológica entre o homem e a mulher, estabelece-se o aborto e o uso de anticoncepcionais. Isto será um “direito humano” da mulher, o qual tem que ser provido pelo Estado. Assim, afirma Lucila Scavone: “Em um primeiro momento a maternidade foi reconhecida como um handicap (defeito natural) que confinaria as mulheres em uma bio-classe. Logo, a recusa da maternidade seria o primeiro caminho para subverter a dominação masculina e possibilitar que as mulheres buscassem uma identidade mais ampla, mais completa e, também, pudessem reconhecer todas suas outras potencialidades. Por exemplo, a luta política das mulheres  francesas, nos anos 1970, para obter a pílula contraceptiva e o aborto como direito político, possibilitou a efetivação desta recusa.[2] (grifos nossos)
Vinny Ohh de 22 anos, gastou mais de US$ 50 mil
(cerca de R$ 156 mil) em 110 procedimentos
estéticos para se parecer com um “alienígena assexual”.
Tudo isso indica o fim da família e da sociedade, da qual a família é o núcleo. Teremos uma sociedade sonhada pelo demônio onde o homem já não seria a imagem e semelhança de Deus (Genesis 1:26). Tal sociedade se me afigura um pesadelo ou um filme de terror, com pessoas assexuadas e mais de 60 tipos de “gêneros”, segundo as mídias sociais.
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Estamos, pois, diante de uma revolução que visa mudar não só a sociedade, mas também o homem. A maioria das revoluções, contudo, foram feitas com guerras e custou a vida de milhares de pessoas. A ideologia de gênero, por sua vez, é uma revolução pacífica. Ela não usará armas letais, mas será imposta pela legislação e pelo Poder Judiciário de cada nação mediante a prisão e pesadas multas para aqueles que se opuserem. Provam-no fatos recentes acontecidos nos EEUU, na Alemanha e na Noruega.[3]
Se a ideologia de gênero for a batalha final de que fala a Irmã Lúcia, já vislumbramos em seu termo o Reino de Maria, com o cumprimento da promessa de Nossa Senhora em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!
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[2] Lucila Scavone, “A maternidade e o feminismo: diálogo com as ciências sociais” – http://www.scielo.br/pdf/cpa/n16/n16a08.pdf – acessado em 12/10/2017


domingo, 8 de outubro de 2017

A batalha continua…

A batalha continua…


Tramitava desde agosto de 2015 o Plano Nacional de Educação (PL 1038/15) –– o qual fazia referência à ideologia de gênero que seria introduzida nos currículos escolares ––quando, em 14 de junho de 2016, graças ao esforço do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e de muitos defensores da instituição familiar (através de telefonemas, envios de e-mails, fax, contatos com parlamentares etc.), o referido plano foi aprovado, só que sem menção a essa famigerada ideologia. A campanha de e-mails do IPCO enviou 78.548 mensagens aos deputados de São Paulo.
Contudo, os inimigos da família continuaram a agir como se não tivessem sofrido uma fragorosa derrota, não só no Estado de São Paulo, mas na maioria das cidades brasileiras e, especialmente, no Congresso Nacional.
Assim, trava-se atualmente em diversos colégios e universidades uma renhida batalha a propósito da implantação de banheiros destinados à esdrúxula diversidade de “gênero”. A Câmara Municipal de Barretos (SP), por exemplo, convocou a população para uma audiência pública no dia 21 de setembro a fim de debater sobre o assunto. [1]
Como, de acordo com o PL 1038/2015, não há base legal para a implantação da ideologia de gênero nas escolas, o vereador Raphael Aparecido de Oliveira (PRP) alega que, “segundo o Governo do Estado de São Paulo, as escolas devem seguir a Lei Estadual nº 10.948, que versa sobre discriminação em razão de orientação sexual e identidade de gênero”. Essa lei, entretanto, não faz referência à “identidade de gênero” nem a banheiros, mas à “prática de discriminação em razão de orientação sexual”.[2]
Tal manobra, porém, chamou a atenção do bispo diocesano de Barretos, D. Milton Kenan Júnior (foto ao lado), especialmente pela insistência do Estado em implantar a ideologia de gênero nos colégios. “Causa preocupação o fato de o Estado brasileiro num momento de tanta fragilidade política e social, insistir por implantar nas escolas públicas ações que não erradicam a discriminação ou o preconceito (no caso dos homossexuais, discentes travestis e transexuais), mas corroboram com a falência da instituição familiar e a devastação de valores que promovem a família e a dignidade da vida humana” – observou o Prelado.
Nesse sentido, adverte que “admitir a sexualidade como ‘construção social’ é relativizar o que há de mais sublime na existência, ou seja, a maternidade, a família, a religião, a ética, a tradição, os valores culturais”. (grifo nosso)
Reduzir o tratamento da ‘identidade sexual’ a um conjunto de medidas sem considerar as implicações na vida pessoal, social e comunitária dos indivíduos e, sem ouvir todos os interessados como as famílias, os educadores, as igrejas e os que estão mais próximos da formação das novas gerações soa como uma atitude arbitrária” ––  assinalou o prelado.
Segundo os promotores dessa ideologia, existem mais de 60 tipos de “gêneros”. Como é impraticável e economicamente inviável a construção de um banheiro para cada gênero, certamente manterão os dois banheiros, masculino e feminino, mas em lugar das palavras “homem” e “mulher” colocarão um símbolo indicando todos os “gêneros”. Esta é a meta, ou seja, a extinção dos sexos conforme Deus os criou!
Como podemos notar, essa batalha nada tem a ver com banheiros, mas com a quebra –– através de um igualitarismo revelador de uma profunda revolta contra a ordem estabelecida por Deus no Universo –– das últimas barreiras existentes entre as pessoas, quais sejam as diferenças entre os sexos. Rompem-se também assim os últimos vestígios da modéstia, do pudor e do respeito que deve existir entre as pessoas de sexos diferentes, privando-as deste indispensável muro de proteção sem o qual em nada elas se diferenciam dos animais.
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O que diria Pio XII sobre “artes” blasfemas?

O que diria Pio XII sobre “artes” blasfemas?


Por Jurandir Dias

           
Dante diz na Divina Comédia que as obras dos homens são netas de Deus, porque realizadas por filhos de Deus.[1] Poderíamos então dizer o mesmo em relação ao demônio, de quem as apresentações do Queermuseu em Porto Alegre, da peça blasfema “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” e de muitas outras podem ser consideradas netas, pois foi ele que as inspirou aos seus realizadores com o objetivo de ofender a Deus.

            Se arte “é a reta razão de fazer algumas obras” e a beleza é o reflexo de Deus, pois “o ser de todas as coisas deriva da Beleza divina”, como define Santo Tomás de Aquino, a blasfêmia não pode ser considerada arte.[2]

            “Santo Tomás define o belo como sendo o que agrada ver (pulchrum es id quod visum placet) ou o que agrada pelo conhecimento”. A beleza é o que causa satisfação aos sentidos. O ouvido se deleita com uma bela música e a vista com uma bela pintura, por exemplo. Mas a acessibilidade ao belo através dos sentidos só é possível porque estes estão penetrados pela razão.[3]

            Em seu célebre ensaio Revolução e Contra-Revolução, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreve que “Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes e sabores e certos estados de alma, é claro que por estes meios se podem influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias e povos à formação de um estado de espírito profundamente revolucionário. Basta lembrar a analogia entre o espírito da Revolução Francesa e as modas que durante ela surgiram. Ou entre as efervescências revolucionárias de hoje e as presentes extravagâncias das modas e das escolas artísticas ditas avançadas”.[4]
            Ao defender a exposição blasfema de Porto Alegre, diz Alexandre Karnal: Arte em si não tem utilidade. Arte é um diálogo total com a subjetividade humana, ou seja, arte é aquilo que eu consigo ser humano, expressar todas as capacidades da criação humana chocando, embelezando ou até atacando valores. Arte me desinstala, me tira de onde eu estou, foge do senso comum.”  [5]

            Em entrevista ao jornal Nexo, o filósofo Renato Janine critica a sadia reação das pessoas que se manifestaram contra a exposição nudista no Museu de Arte de São Paulo, classificando-a como resultado da ignorância do povo: “Está em jogo a ignorância. As pessoas nem procuram se informar do que se trata e já reagem. As que invadiram o MAM provavelmente defendem a autoridade dos pais sobre os filhos. No caso, a criança estava acompanhada da mãe, havia avisos [do museu sobre o conteúdo], a mãe autorizou que a criança tocasse na perna do artista. (...) Elas simplesmente têm uma reação ideológica, de ódio. Isso é muito preocupante porque estão fazendo a ignorância e intransigência delas prevalecer sobre a complexidade das coisas.”[6]  Ora, se a criança que passou a mão sobre o corpo nu do “artista “ estava acompanha da mãe, torna o fato ainda mais grave.

            O filósofo inglês Roger Scruton, por sua vez, observa que “se uma obra de arte não é nada mais que uma ideia, qualquer um pode ser um artista e qualquer objeto pode ser uma obra de arte. Não há mais necessidade de habilidade, gosto ou criatividade.
            “Então, a arte de hoje nos mostra o mundo como ele é, o aqui e agora com todas suas imperfeições; mas o resultado realmente é arte? Certamente uma coisa não é uma obra de arte somente porque mostra um pedaço da realidade (a feiura incluída) e se autointitula ‘arte’. A arte precisa de criatividade, (…) ela é um chamado para que os outros vejam o mundo como o artista o vê”. [7]
            Pio XII condenou todo tipo de arte que “falta gravemente à ordem moral” e também aqueles que a divulgam sob o pretexto de que tal arte tem “valor artístico e técnico”:

Cristo entrega as chaves a São Pedro
 e o institui fundamento único da Igreja
“A Igreja, que protege e apoia o desenvolvimento de todos os verdadeiros valores espirituais — tanto as ciências quanto as artes A têm tido como Patrona e Mãe — não pode permitir que se atente contra os valores que ordenam o homem para Deus, seu fim último. Ninguém deve, pois, surpreender-se de que nesta matéria que requer, também, muita prudência, Ela tome uma atitude de vigilância, conforme a recomendação do Apóstolo: "Provai todas as coisas; retende o que é bom; abstende-vos de toda aparência de mal" (1 Tess. 5, 21-22).

“É necessário, portanto, condenar os que ousam afirmar que determinada forma de difusão pode ser explorada, valorizada e exaltada, mesmo se falta gravemente à ordem moral, contanto que tenha valor artístico e técnico. É verdade que a arte — como relembramos por ocasião do V Centenário da morte do Angélico —, para ser tal, não precisa necessariamente cumprir uma missão ética ou religiosa explicita. Mas se a linguagem artística se adaptasse, nas palavras e cadências, a espíritos falsos, vazios e perturbados, isto é, se, desviando-se dos desígnios do Criador, em vez de elevar o espírito e o coração a nobres sentimentos excitasse as paixões mais vulgares, ela encontraria via de regra uma acolhida favorável, mesmo que fosse apenas em virtude da novidade, que nem sempre é um valor, e da tênue parte de real que toda linguagem contém. Tal arte, todavia, se degradaria, renunciando a seu aspecto primordial e essencial, e não seria universal e eterna como o espírito humano a quem se dirige". — (Encíclica Miranda Prorsus, sobre o Cinema, o Rádio e a Televisão, de 8-IX-1957). ("Catolicismo", nº 92, agosto de 1958)[8]

Na época de Pio XII, entretanto, os revolucionários ainda não tinham ousado a usar a arte para blasfemar contra Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, a Eucaristia etc. O que diria esse Papa se vivesse em nossos dias? O que diria ele também do silêncio desconcertante da Hierarquia católica diante de tais fatos?



[1] ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia. Inferno, Canto XI, v.105.
[3] Jolivet, Régis. Tratado de filosofia III. Metafísica. Rio de Janeiro: Agir, 1965, p.259 
[4] Plinio Corrêa de Oliveira, “Revolução e Contra-Revolução”, cap. 10 – 2.
[5] https://www.youtube.com/watch?v=6WuRmUBsRDI