O que diria Pio XII sobre “artes” blasfemas?
Por Jurandir Dias
Se arte “é a reta
razão de fazer
algumas obras” e a beleza é o reflexo de Deus, pois “o ser de todas as coisas deriva da Beleza
divina”, como define Santo Tomás de Aquino, a blasfêmia não pode ser
considerada arte.[2]
“Santo Tomás define o belo como sendo o que agrada ver
(pulchrum es id quod visum placet) ou o que agrada pelo conhecimento”.
A beleza é o que causa satisfação aos sentidos. O ouvido se deleita com uma
bela música e a vista com uma bela pintura, por exemplo. Mas a acessibilidade
ao belo através dos sentidos só é possível porque estes estão penetrados pela
razão.[3]
Em
seu célebre ensaio Revolução e
Contra-Revolução, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreve que “Deus
estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons,
perfumes e sabores e certos estados de alma, é claro que por estes meios se
podem influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias e povos à
formação de um estado de espírito profundamente revolucionário. Basta lembrar a
analogia entre o espírito da Revolução Francesa e as modas que durante ela
surgiram. Ou entre as efervescências revolucionárias de hoje e as presentes
extravagâncias das modas e das escolas artísticas ditas avançadas”.[4]
Ao defender a exposição blasfema de
Porto Alegre, diz Alexandre Karnal: “Arte em si não tem utilidade. Arte
é um diálogo total com a subjetividade humana, ou seja, arte é aquilo que
eu consigo ser humano, expressar todas
as capacidades da criação humana chocando, embelezando ou até atacando valores. Arte me desinstala,
me tira de onde eu estou, foge do senso
comum.” [5]
Em entrevista ao jornal Nexo, o filósofo Renato Janine critica a
sadia reação das pessoas que se manifestaram contra a exposição nudista no
Museu de Arte de São Paulo, classificando-a como resultado da ignorância do
povo: “Está em jogo a ignorância. As pessoas nem procuram se
informar do que se trata e já reagem. As que invadiram o MAM provavelmente
defendem a autoridade dos pais sobre os filhos. No caso, a criança estava
acompanhada da mãe, havia avisos [do museu sobre o conteúdo], a mãe autorizou
que a criança tocasse na perna do artista. (...) Elas simplesmente têm uma reação ideológica, de ódio. Isso é muito
preocupante porque estão fazendo a ignorância e intransigência delas prevalecer
sobre a complexidade das coisas.”[6]
Ora, se a criança que passou a mão sobre o
corpo nu do “artista “ estava acompanha da mãe, torna o fato ainda mais grave.
O
filósofo inglês Roger Scruton, por sua vez, observa que “se uma obra de arte
não é nada mais que uma ideia, qualquer um pode ser um artista e qualquer
objeto pode ser uma obra de arte. Não há mais necessidade de habilidade, gosto
ou criatividade.
“Então,
a arte de hoje nos mostra o mundo como ele é, o aqui e agora com todas suas
imperfeições; mas o resultado realmente é arte? Certamente uma coisa não é uma
obra de arte somente porque mostra um pedaço da realidade (a feiura incluída) e
se autointitula ‘arte’. A arte precisa de criatividade, (…) ela é um chamado
para que os outros vejam o mundo como o artista o vê”. [7]
Pio XII condenou todo tipo de arte que “falta
gravemente à ordem moral” e
também aqueles que a divulgam sob o pretexto de que tal arte tem “valor
artístico e técnico”:
Cristo entrega as chaves a São Pedro e o institui fundamento único da Igreja |
“A
Igreja, que protege e apoia o desenvolvimento de todos os verdadeiros valores
espirituais — tanto as ciências quanto as artes A têm tido como Patrona e Mãe —
não pode permitir que se atente contra os
valores que ordenam o homem para Deus, seu fim último. Ninguém deve, pois,
surpreender-se de que nesta matéria que requer, também, muita prudência, Ela
tome uma atitude de vigilância, conforme a recomendação do Apóstolo:
"Provai todas as coisas; retende o que é bom; abstende-vos de toda aparência de mal" (1 Tess. 5, 21-22).
“É necessário, portanto, condenar
os que ousam afirmar que determinada forma de difusão pode ser explorada,
valorizada e exaltada, mesmo se falta gravemente à ordem moral, contanto que
tenha valor artístico e técnico.
É verdade que a arte — como relembramos por ocasião do V Centenário da morte do
Angélico —, para ser tal, não precisa necessariamente cumprir uma missão ética
ou religiosa explicita. Mas se a
linguagem artística se adaptasse, nas palavras e cadências, a espíritos falsos,
vazios e perturbados, isto é, se, desviando-se dos desígnios do Criador, em
vez de elevar o espírito e o coração a nobres sentimentos excitasse as paixões
mais vulgares, ela encontraria via de regra uma acolhida favorável, mesmo que
fosse apenas em virtude da novidade, que nem sempre é um valor, e da tênue
parte de real que toda linguagem contém. Tal
arte, todavia, se degradaria, renunciando a seu aspecto primordial e essencial,
e não seria universal e eterna como o espírito humano a quem se dirige".
— (Encíclica Miranda Prorsus, sobre o Cinema, o Rádio
e a Televisão, de 8-IX-1957). ("Catolicismo",
nº 92, agosto de 1958)[8]
Na época de Pio XII,
entretanto, os revolucionários ainda não tinham ousado a usar a arte para
blasfemar contra Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, a Eucaristia etc. O
que diria esse Papa se vivesse em nossos dias? O que diria ele também do
silêncio desconcertante da Hierarquia católica diante de tais fatos?
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