domingo, 26 de novembro de 2017

MST rejeita terra doada para fins de reforma agrária

MST rejeita terra doada para fins de reforma agrária
Por Jurandir Dias

Em 2003, Gilberto Gil, compositor e ex-ministro da Cultura do governo Lula, doou uma propriedade ao MST na zona rural de Cravolândia (BA), a cerca de 300 quilômetros de Salvador. Localizada próxima à Fazenda Palestina, antiga produtora de café para exportação transformada pelo governo num assentamento de 4,3 mil hectares, a propriedade, contudo, continua sem moradores.
Largaram mão e o capim tomou conta. Tem carrapato de matar com o pau. Antigamente era café, laranja, manga, muita fruta que tinha aqui. Jaqueira, gado… Hoje, está tudo largado”, disse Florisvaldo, um pequeno proprietário que se dispôs a acompanhar uma equipe de reportagem da Folha de São Paulo até o local.
A direção do MST alega que o abandono da propriedade doada para fins de reforma agrária se deve ao tamanho e às dificuldades de acesso, e também porque não houve investimentos em infraestrutura: “De acordo com a direção do MST no Estado, a área doada por Gilberto Gil não comporta um assentamento de reforma agrária, as informações que temos apontam que o sítio possui entre 40 a 70 hectares. Esse processo pode ser confirmado com o Incra, órgão responsável pelo processo de desapropriação. Além disso, existem diversas dificuldades de acesso, tendo em vista que historicamente não houve investimentos em infraestrutura”[i] (grifo nosso)
Em 2015, a Fazenda Cedro, localizada no município de Marabá, no sudeste do Pará, foi invadida pelo MST, que abateu cerca de 30 animais de alto valor genético, queimou casas e equipamentos.
Segundo o site g1.globo.com , “de acordo com os funcionários da fazenda, cerca de 80 homens armados e encapuzados participaram da invasão ao local, rendendo seguranças e funcionários.
“Essas pessoas entraram já atirando e já colocando fogo nas casas. Já iam roubando, saqueando e outros iam queimando. Eles cercaram os seguranças e teve o confronto. E desigual, porque temos apenas quatro seguranças e eles eram mais de 80 pessoas”, relata uma testemunha que não quis se identificar.
“Onze casas foram totalmente destruídas, além de uma motocicleta e um trator.” [ii]
Em outra ação criminosa, desta vez em Quedas do Iguaçu, no sudoeste do Paraná, com a participação de mil mulheres, o MST destruiu aproximadamente 1,2 milhão de mudas de pinus de um viveiro do Projeto Quatro, da Araupel.
A invasão aconteceu na madruga do dia 8 de março de 2016, numa ação relâmpago que causou um prejuízo estimado em R$ 5 milhões. [iii]
“Mais de mil mulheres, armadas com machados, facões e pedaços de pau, impediam a saída de quem estava na empresa. Em poucos minutos, o grupo pichou muros, placas e também as estufas, onde são realizados os testes. Um vídeo, divulgado pelo próprio movimento, mostra as mulheres derrubando plantas e depredando a estrutura dos viveiros. A ação faz parte da jornada nacional de lutas das mulheres no campo”, afirma a reportagem do site da Globo. [iv]
Esses são apenas alguns exemplos de ações do chamado “Exército do Stédile”. Se o leitor se der o trabalho de pesquisar no Google, verá páginas e páginas de notícias referentes a invasões e vandalismo desse movimento.
O Brasil possui uma área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, com cerca de dois terços delas constituídos de terras devolutas. A Reforma Agrária poderia ser feita nessas terras, mas o MST alega “dificuldade de acesso” e “falta de infraestrutura”.  Contudo, as terras devolutas começam onde terminam as propriedades particulares.
Os fatos provam que o MST não quer terras para trabalhar, mas deseja apenas desestruturar a economia agrária, uma das mais fortes do País. Ele o faz levando o caos social ao nosso campo, invadindo propriedades, danificando o patrimônio particular, matando o gado, roubando e destruindo as plantações.

[ii] http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2016/01/policia-investiga-ataque-fazenda-cedro-em-maraba.html
[iii] www.abim.inf.br/exercito-do-stedile-barbaridade-odio-e-impunidade/

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Coisa de preto, coisa de República, coisa de Dilma...

Coisa de preto, coisa de República, coisa de Dilma...

Por Jurandir Dias

Há dias atrás repercutiu largamente no noticiário nacional e internacional o caso de William Waack, jornalista da Globo, acusado de racismo e afastado de suas funções por causa da infeliz expressão “coisa de preto”.

Tudo começou há um ano quando William Waack, então âncora do Jornal da Globo, anunciava a vitória de Donald Trump nas eleições americanas.  Antes de entrar ao vivo, mas com as câmeras e microfones ligados, ele se irrita com o som de buzinas vindo da rua, diz alguns impropérios e exclama: “fazer isto é coisa de preto”.

No dia 07 de novembro p.p., William Waack, no Jornal da Globo, a propósito do centenário da revolução russa,  exibia fotos de Leon Trotsky, Stalin e Lenin, sobre os quais comentou: “Cem anos atrás nem eles achavam que poderiam se manter no poder em Moscou, mas conseguiram. Conseguiram às custas das liberdades que diziam defender. Lenin iniciou um dos mais bárbaros, sanguinários e opressores regimes da história da humanidade. A Revolução Russa levou à criação do que foi o maior estado do século XX: a União Soviética. Este estado implodiu em 1991 sob o peso da própria incapacidade de fazer a economia funcionar.(...) A revolução russa prossegue sendo um símbolo poderoso. Não é à toa que a gente escolheu este símbolo (a bandeira da União Soviética) para que vocês vejam, confiram.  A bandeira da União Soviética não existe mais. Ela é o símbolo de que utopias interpretadas e conduzidas por partidos políticos que acham que sabem o que é melhor para as pessoas. Essas utopias terminam em regimes repulsivos e totalitários. O russos deram pouca atenção hoje à data.”

Coincidência ou não, no dia seguinte a esse comentário,  “vazou” na imprensa aquele de um ano atrás e em seguida o jornalista foi dispensado de suas funções. Isto parecia uma carta guardada na manga para usar no momento propício.

O fato foi motivo de comentários de especialistas e jornalistas, entre os quais destaco o do  prof. Paulo Cruz, mestre em Ciência e Religião:

 Mas as palavras de Waack não fazem dele um racista. Eu diria assim: todo racista diz aquilo, mas nem todos que dizem aquilo são racistas. Esse tipo de estupidez está no imaginário brasileiro há mais de um século. E mais: não sem um fundo de verdade. Acompanhe meu raciocínio, caro leitor.
“Após a proclamação da República, os republicanos sepultaram a esperança dos negros, lançando-os na mais absoluta marginalidade.

“No fim do século 19, o movimento abolicionista pedia o fim da escravidão sem indenização aos fazendeiros; os novos cidadãos livres é que seriam auxiliados. Para isso, André Rebouças escrevia sobre reforma agrária, e a princesa Isabel, principal aliada do movimento, coordenava um projeto de indenizações aos ex-escravos. Em carta reveladora ao Visconde de Santa Vitória (sócio do Barão de Mauá), agradece a intenção do banqueiro em colaborar com a causa.

Princesa Isabel
“O problema é que, um ano e seis meses após a assinatura da Lei Áurea, um golpe militar minou o projeto abolicionista. A família imperial foi expulsa do país e os republicanos sepultaram a esperança dos negros, lançando-os na mais absoluta marginalidade. Joaquim Nabuco, numa carta a Rebouças em 1893, disse: ‘Com que gente andamos metidos! Hoje estou convencido de que não havia uma parcela de amor do escravo, de desinteresse e de abnegação em três quartas partes dos que se diziam abolicionistas. [...] A prova é que fizeram esta República e depois dela só advogaram a causa dos bolsistas, dos ladrões da finança, piorando infinitamente a condição dos pobres. É certo que os negros estão morrendo e, pelo alcoolismo, se degradando ainda mais do que quando escravos, porque são hoje livres, isto é, responsáveis, e antes eram puras máquinas, cuja sorte Deus tinha posto em outras mãos (se Deus consentiu na escravidão)’

“Em resposta, Rebouças também lamenta: ‘Ah, meu bom Nabuco, que erro irreparável foi desviar o Brasil da evolução democrática iniciada pela Abolição, para lançá-lo no redemoinho das revoluções incessantes e intermináveis”. Posteriormente, o sociólogo marxista Florestan Fernandes, mesmo atribuindo a condição do negro única e exclusivamente a fatores externos, diz que “muitos agiam como ‘desordeiros’, provocando repetidamente ‘forrobodós’ nos cortiços, pela madrugada, ou dentro de seus cômodos’.  (grifos nossos)

“Ou seja, associar “coisa de preto” à desordem reflete, infelizmente, a postura do próprio negro perante os desafios e impossibilidades que se impuseram no pós-abolição. Perpetuar essa mentalidade é um horror, mas não pior que perpetuar a “cultura de gueto”.[i]

O caso de William Waack nos trouxe algumas lições: aprendemos um pouco de história e vimos como a nossa República é como o demônio, ou seja, ela não dá o que promete. Aprendemos também que o PT, o Lula e a Dilma se consideram “coisa de preto”. Assim, em sua conta no Twitter, no dia 13 p.p., Dilma se expressou de um modo inegavelmente racista: “Esse foi um pensamento que tive depois do caso do William Waack. Você sabe o que é coisa de preto? O PT é coisa de preto. O Lula é coisa de preto. Nós somos coisa de preto. Eu sou uma coisa de preto”. Isto, contudo, é coisa de Dilma.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A Corte que proíbe a vaquejada e permite o aborto

A Corte que proíbe a vaquejada e permite o aborto





Em novembro do ano passado, a Primeira Turma do STF decidiu que não é crime o aborto realizado durante o primeiro trimestre de gestação, seja qual for o motivo que leve a mulher a interromper a gravidez. Votaram favoráveis ao aborto os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Rosa Weber.
Paradoxalmente, na mesma época o STF pretendia proibir a famosa vaquejada do Nordeste, alegando “maus tratos nos animais”. Por seis votos a cinco, a Suprema Corte decidiu que a lei cearense que regulamentava a prática da vaquejada era inconstitucional.
Os vaqueiros, entretanto, “garantem que a prática nos últimos 10 anos foi regulamentada a fim de assegurar a proteção dos animais, o que é fiscalizado por veterinários.[i]
Durante conferência realizada em Brasília no dia 27 p.p. sobre perspectivas de reforma institucional, Gilmar Mendes aproveitou a ocasião para provocar o ministro Luís Roberto Barroso, um dos que votaram pela liberação do aborto:
Parte desse grupo que votou na vaquejada conduziu uma decisão que tentava introduzir o aborto no Brasil, dizendo que aborto até três meses, sem decisão do plenário, seria legítimo, num caso que discutia não o tema diretamente, mas excesso de prazo para pessoa que praticou aborto. A decisão poderia ter sido favorável à pessoa, pelo excesso de prazo, mas não precisava entrar no tema. Entrou no tema, porque se viu possibilidade de fazer maioria. De vez em quando nós somos esse tipo de Corte que proíbe a vaquejada e permite o aborto”.[ii] (grifo nosso)
O Ministro tem razão: “esse tipo de Corte” que vota a favor do aborto é capaz de colocar na cadeia uma pessoa que destruir um ovo de tartaruga, por exemplo, ou matar um animal selvagem para saciar a  própria fome. Será que esses homens “iluminados” não percebem a contradição que há em suas decisões? Ou para eles a vida de um animal é mais importante do que a do ser humano?
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