Doutrina e arte:
um nexo que a
Revolução entende
Jurandir Dias
Diz
um adágio chinês que a educação de uma criança começa cem anos antes de ela
nascer. Entende-se perfeitamente tal princípio quando observamos o estágio
atual de decadência da sociedade nos costumes, na música, na arte etc. Isto é
como um aprendizado às avessas que se adquire durante séculos.
Foi
assim que a decadência da Idade Média deu origem à Renascença, ao Iluminismo, à
Revolução Francesa e ao Comunismo, conduzindo-nos aos disparates de hoje, das
modas com os trajes esfarrapados, da música com o funk – que reflete uma juventude sem princípios morais –, de uma
sexualidade livre e sem freios, e de muitos outros aspectos da sociedade atual.
Parece que voltamos à era das cavernas, do homem primitivo.
Tudo
isso é um processo multissecular que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira chamou de
Revolução – com R maiúsculo – no ensaio Revolução
e Contra-Revolução. E para chegar onde estamos a Revolução utilizou diversos
meios. Entre eles a arte.
O
papel da arte nas ideias tem também despertado a atenção de alguns filósofos e
estudiosos modernos. O filósofo inglês, Roger Scruton, num noticiário veiculado
pela BBC de Londres no dia 28/11/2009, demonstrou que o mundo vem perdendo o
senso ético e estético da beleza, e passou a prestar um culto à feiura e, em
consequência disso, tornou-se um deserto espiritual.[i]
Em
recente entrevista ao Canal “Terça Livre”, o Prof. Carlos Nougué descreve a
importância do belo nas artes, como ela exerce influência nas ideias e nas
tendências, e como a Revolução utiliza a arte para propagar as suas doutrinas. Assim,
diz o professor tomista:
“As artes do belo,
se elas são boas, visam a propender o homem ao bom e ao verdadeiro, ao bem e à
verdade. Ora, a arte revolucionária faz o homem propender ao mal e ao falso, ao
mal e à falsidade...
“O que é o belo? Já
ninguém sabe o que é o belo. Se eu perguntar às pessoas hoje, contemporâneas minhas, cada uma me responderá
uma coisa e, no entanto, o belo é algo
objetivo. Pois bem, aquela arte que faz o homem propender à falsidade e à
maldade não é arte de modo algum.
“As três notas da
beleza são: integridade, harmonia e luminosidade (claridade, fulgor). Tomemos,
para simplificar o assunto, a nota número dois: a harmonia. Então a boa música,
o bom filme, a boa peça teatral, elas são harmônicas, são consonantes e se
reduzem a certa proporção. Ora, como as nossas virtudes intelectuais são
proporções, essas peças artísticas boas, elas por serem proporções são análogas
às nossas virtudes. Por serem análogas às nossas virtudes é que fazem com que
nós propendamos a essas virtudes. A arte feia tem analogia com o vício, e não
com a virtude. Se eu desde pequeno amo o feio na arte, eu vou tender ao vício,
à paixão, ao falso, ao mal. É uma tendência. Naturalmente, alguns escapam a
isso, mas a maioria das pessoas tenderá ao mal e ao falso se aprenderam a
apreciar as más artes.”[ii]
Na
seção “Ambientes, Costumes e Civilizações”
da revista “Catolicismo” nº 35, novembro de 1953, há um nexo entre doutrina e arte
que os comunistas entendem, afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“
|
“Quando morreu Stalin, o pintor comunista Picasso
fez dele o retrato que ao lado reproduzimos. ‘L'Humanité’, órgão vermelho de
Paris, publicou o trabalho. Moscou, entretanto, o condenou porque segundo os
cânones da arte comunista, um retrato deve tanto quanto possível parecer-se
com uma fotografia, evitando interpretações pessoais do artista. Estas interpretações
exprimem uma mentalidade subjetivista e individualista, incompatível com o
coletivismo socialista.
De fato, o rosto de Stalin, visto por Picasso, tem
muito de subjetivo. Mais real é a fotografia que dele se tirou em Teerã em
1943, ao lado de Roosevelt: dir-se-ia um porteiro de hotel endomingado em seu
uniforme novo, ufano em tomar a fresca por uns minutos ao lado de um hóspede
distinto, que consentiu em conversar um pouco com ele. |
“Os comunistas
compreendem que um vasto sistema de ideias filosóficas, sociais e econômicas
tem de dar necessariamente à arte um cunho próprio, que será bom ou mau
conforme seja verdadeiro ou falso o sistema. E que o coletivismo tem de
produzir em arte uma atitude peculiar. Em ‘Ambientes, Costumes, Civilizações’
temos procurado pôr em evidência o mesmo princípio com relação ao Catolicismo.
Nossa arte não pode ser a do comunismo, nem a do neopaganismo ocidental, pelo
simples fato de que somos católicos. E, contudo esta secção encontra, ao par de
tantos aplausos, tanta relutância oposta por espíritos deformados pelo
liberalismo. Sirva-lhes pelo menos de lição a coerência de nossos adversários.”[iii]