quarta-feira, 25 de abril de 2018

“Ter filhos não é ético”, afirmam os antinatalistas


“Ter filhos não é ético”, afirmam os antinatalistas




    O homem é a “única criatura sobre a terra que Deus quis por si mesma”[i], dotando-o de toda a dignidade a ponto de permitir que seu Filho se encarnasse e morresse na Cruz para resgatá-lo do pecado original. É por este motivo que o demônio se tem empenhado desde o início em destruí-lo. Compreendemos assim também o porquê da criação de doutrinas como a ideologia de gênero, o ambientalismo e, mais recentemente, o movimento chamado antinatalista.
    Deus mostra a sua predileção pelo ser humano por se tratar da mais perfeita de suas criaturas e porque o criou “à sua imagem e semelhança”. O que as Escrituras descrevem poeticamente: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. E depois de tê-los criado, Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” (Gênesis, 27 e 28).
    Ter filhos, portanto, é um mandado divino. O casal que não quer ter filhos demonstra um egoísmo extremo e peca contra esse mandado.
    Audrey Garcia, de 39 anos, casada, é uma dessas pessoas que dizem ter seus motivos para não ter filhos. Numa entrevista para a BBC Mundo em espanhol, ela afirma que  ter filhos “simplesmente não é ético em um mundo superpovoado, onde falta água e comida para muitas pessoas, onde estamos destruindo o meio ambiente, onde não paramos de consumir mais e mais recursos”.[ii]
    Audrey Garcia pertence a um grupo de pessoas conhecidas como antinatalistas, que se inspiram nas ideias de David Benatar, diretor do Departamento de Filosofia da Universidade do Cabo, na África do Sul. Benatar é autor do livro Better Never to Have Been (Melhor Nunca ter Nascido). A obra começa com a seguinte dedicatória: “Aos meus pais, apesar de me terem dado a vida”.
    Segundo Audrey, o antinatalismo está associado ao veganismo. “Como ativistaluto contra todo tipo de exploração animal. Se eu tivesse filhos, seria responsável por criar uma cadeia sem fim de humanos que vão consumir produtos animais, porque não posso garantir de forma alguma que meus filhos e netos sejam veganos” E continua: “Ter filhos significaria necessariamente aumentar o sofrimento animal”. Para Audrey, ser antinatalista também é ir contra o sistema estabelecido, que “supõe que a mulher está destinada a ser mãe”.
    Audrey Garcia fez a cirurgia para se tornar estéril e afirma que “as pessoas costumam ficar chocadas porque veem a esterilização como uma mutilação, mas quando eu explico os motivos, elas entendem”.
    Como os casais egoístas, que só pensam no prazer e não querem ter filhos, este é um problema que Audrey tem enfrentado nos seus relacionamentos. Por isso, justifica-se dizendo: “Não vejo o que há de egoísta em querer dedicar sua vida a outra coisa que não seja ter filhos. O que acho egoísta é tomar, de maneira unilateral, a decisão de trazer alguém a este mundo.
    Uma das razões que os antinatalistas citam para não terem filhos seriam os sofrimentos físico, psicológico e emocional. Assim, Audrey deixa transparecer o desejo de suicídios dessas pessoas: “Acho que muitas pessoas já pensaram em suicídio uma vez ou outra. Mas já que estou aqui, tento ser útil.
    Por causa do pecado original, esta vida é um “vale de lágrimas”. E é muitas vezes no sofrimento que encontramos a nossa consolação. Foi o exemplo que nos deu Nosso Senhor Jesus Cristo morrendo na Cruz. O suicídio é, portanto, a falsa solução que o demônio apresenta àqueles que se entregam ao egoísmo e aos prazeres.
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    [i] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 2001, p. 103

domingo, 1 de abril de 2018

A ideologia de gênero e o princípio da não-contradição




A ideologia de gênero e o princípio da não-contradição

Por Jurandir Dias

Segundo a ideologia de gênero, a pessoa pode ser uma coisa ou outra, ou não ser nada, ou seja, de acordo com a sua “sensação interna” será homem, mulher ou nem homem nem mulher. É estranho, mas é o relativismo levado ao extremo. Nesse sentido, essa ideologia parece uma seita cuja doutrina não tem base na ciência nem na realidade. Para ela não há uma verdade absoluta; tudo é relativo. Em artigo recentemente publicado no site do IPCO, transcrito da Gazeta do Povo, Ryan T. Anderson, autor do livro  When Harry Became Sally, observa que “as afirmações de ativistas do movimento transgênero são confusas porque elas são filosoficamente incoerentes.”[1]

Isto explica por que tais ativistas confiam em afirmações contraditórias. Essas contradições, segundo Ryan T. Anderson, “são necessárias no momento para fazê-los avançar em suas posições, mas a sua ideologia segue evoluindo, e até mesmo aliados e organizações LGBT podem ficar para trás conforme o ‘progresso’ acontece”. Diríamos que ela vai se requintando e a cada dia surgem novos tipos trans, não sendo possível prever o fim desse processo, que não é senão a destruição do gênero humano como Deus o criou, ou seja, o reino do demônio sobre a terra caso não houvesse uma intervenção divina com os merecidos castigos, e, finalmente, a vitória prometida por Nossa Senhora em Fátima.

Essa ideologia tem suas causas profundas nas tendências desordenadas do homem. Essas tendências “se desenvolvem como os pruridos e os vícios, isto é, à medida mesmo que se satisfazem, crescem em intensidade. As tendências produzem crises morais, doutrinas errôneas, e depois revoluções. Umas e outras, por sua vez, exacerbam as tendências. Estas últimas levam em seguida, e por um movimento análogo, a novas crises, novos erros, novas revoluções. É o que explica que nos encontremos hoje em tal paroxismo da impiedade e da imoralidade, bem como em tal abismo de desordens e discórdias”.  [2]

Paul R. McHugh, M.D (esquerda) and
Lawrence S. Mayer, M.B., M.S., Ph.D. (direita)
A médica Deanna Adkins, professora na Escola de Medicina da Universidade Duke e diretora do Centro Duke para Cuidados de Gênero de Crianças e Adolescentes, afirmou que, de uma perspectiva médica, “o que determina apropriadamente o sexo é a identidade de gênero”. Ela chama de “má ciência” aquela que fala de “cromossomos, hormônios, órgãos reprodutivos internos, genitálias externas ou características sexuais secundárias para sobrepor a identidade de gênero para propósitos de classificar alguém como masculino ou feminino”. Entretanto, não apresenta nenhum estudo ou argumento científico que corroborem a sua asserção. Seria preciso refutar os estudos de diversos cientistas e médicos de renome, como Lawrence Mayer e Paul McHugh, ambos da Universidade John Hopkins[3], e também o mais recente estudo do Prof. Shmauel Pietrovski e o Dr. Moran Gershoni, pesquisadores do Departamento de Genética Molecular do Instituto Weizmann de Ciências, que revelaram que cerca de 6.500 genes humanos codificadores de proteínas reagem de forma diferente nos sexos masculino e feminino. Esta descoberta desmascara, mais uma vez, a ideologia de gênero, que considera o sexo uma construção social.[4]

Mas o que é exatamente essa “identidade de gênero”, tida como o verdadeiro determinante do sexo?” – pergunta Ryan.

Ele mesmo responde: “Segundo Adkins, é ‘a sensação interna de um indivíduo de pertencer a um gênero em particular, como masculino ou feminino’. Perceba a função da palavra ‘como’, implicando que as opções não são necessariamente limitadas a masculino e feminino. Outros ativistas são mais exatos ao admitir que a identidade de gênero não precisa ser restrita à escolha binária de masculino ou feminino, mas pode incluir os dois ou nenhum. A Associação Americana de Psicologia, por exemplo, define ‘identidade de gênero’ como ‘a sensação interna de uma pessoa em ser masculino, feminino ou outra coisa’”. (grifos nossos)

Seria o caso de perguntar o que é “sensação interna”. Ryan, entretanto, afirma que “o centro da ideologia está a radical afirmação de que sensações determinam a realidade. A partir dessa ideia surgem demandas extremas para a sociedade lidar com afirmações subjetivas da realidade.” Note-se que já não se fala da razão. O homem corrompido pela ideologia de gênero já não pensa, mas tem sensações. É a perda do “lumen rationis” (luz da razão).

Sobre o relativista, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Por que pensar logicamente, se não há verdade nem erro? Por que coibir os impulsos, se não há bem nem mal? O importante é não controlar as próprias ideias, e sim deixá-las soltas ao léu, sem procurar exercer o governo do que acontece dentro de si, deixando-se tocar livremente pelos influxos internos, cujo efeito concreto é tornar-nos um homem como os outros, pensando, sentindo e vivendo como todo-o-mundo, partícipes, em última análise, da grande mentalidade universal. Porque, a não ser um uomo qualunque – um qualquer  – a alternativa é clara: ser um desequilibrado ou ser um robô.” [5]

Santo Tomás de Aquino, seguindo Aristóteles, afirma que é impossível uma coisa ser e não ser ao mesmo tempo. Este é o princípio da não-contradição, que ele o define como o princípio primeiro e supremo do pensamento.[6]

E Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou: “Seja o vosso falar: sim, sim; não, não” (Mt. V, 37). A ideologia de gênero é propriamente a negação desse princípio.
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[6] São Tomás de Aquino, Summa Theologica, I-IIae, qa. 94, a. 2.